Cheia de casas velhas, ruelas estreitas e assustadoras, edifícios devolutos, abandonados, prestes a desabarem e pessoas feias, malcheirosas e andrajosas. "Não sofreu nenhum terramoto", disse um dos meus acompanhantes, cheio de razão.
E no entanto, é uma cidade nova, com um pulsar bem ritmado, com ruas cheias de gente às 10 de manhã de um sábado soalheiro, que percorrem sorrindo e rapidamente, com sacos de compras, mochilas e máquinas fotográficas, as ruas arranjadas, ladeadas de edifícios restaurados, de traços arquitectónicos modernos renovados. Pontes novas e pontes velhas por onde transitam a par as viaturas motorizadas e aquelas de duas rodas com recados (" - um carro na rua", li eu numa bicicleta), barcos e helicópteros a concorrerem com os eléctricos e o funicular.
Não fui à Torre dos Clérigos, mas subi a escadaria da Igreja de Ildefonso (é assim que se chama?) e vislumbrei a torre. Não fui ao Palácio de Cristal mas subi e desci a Avenida dos Aliados, acompanhada de asiáticos e estudantes Erasmus. Imaginei o que já vi na televisão: a área repleta de portistas exuberantes e histéricos. Admirei os azulejos duma estação de comboios, talvez a mais bonita de Portugal, e questionei-me se os andaimes que ladeiam aquele edifício ao lado, que parece ter desabado, são arte ou somente suporte civil.
A manhã portuense não teve ontem a luminosidade da tarde lisboeta de Agosto passado. Mas ofereceu-me um pôr-do-sol deslumbrante enquanto descia a Avenida da Boavista em direção ao mar e apreciava os palacetes de "riquinhos", gente de famílias bem, certamente. Senti o cheiro a maresia e a sardinhas assadas. Atravessei várias pontes, para cá e para lá, subi à Sé e desci à Ribeira e ri-me com a gaivota vaidosa, esta, que fez questão de posar para nós sem qualquer medo e imensa vaidade: