Se há classe profissional que me causa arrepios é a dos dentistas, muito por culpa de quem foi tratando da minha dentição desde pequenita.
O meu primeiro, o que me obrigou a usar aparelho nos dentes desde os 5 anos até aos 11/12, até era simpático e tinha um ar bonacheirão. Como os meus pais levavam-me a visitá-lo apenas de largos meses em largos meses, para verificar se a "máscara de aviador" continuava adequada, não me deixou traumatizada. Já não se pode dizer o mesmo da "máscara", que usava 3 horas por dia, após o período escolar (para não passar vergonhas) e durante a noite. Babava a almofada toda e não foram poucas as vezes que acordei sem ela, mas sem me lembrar de quando a tinha retirado. Era dolorosa!
O seguinte, o que tinha que visitar regularmente e que não tinha nada a ver com a "máscara", demorava imenso tempo a consultar-me, pois intervalava a broca e o chumbo com a leitura do jornal e o visionamento da sua rica TV a cores, estrategicamente colocada à frente da cadeira da "sofredora". Sim, porque naquela altura, não era qualquer um que a tinha a cores, logo, há que aproveitar a ocasião. Detestava-o! Era um homem grande, feio, antipático, pouco sorridente, medonho, assustador de crianças com 7 ou 8 anos. Felizmente, a minha mãe tomou a excelente decisão de mudar de dentista, após ela própria ter sofrido horas nas mãos do "carniceiro". Era mesmo assim que o chamávamos e assentava-lhe que nem uma luva!
A dentista que se seguiu, Dina de sua graça, era o oposto do anterior. Recém-licenciada, na casa dos 30, tinha ainda que arranjar clientela. Era meiguinha, bonita, conversava comigo e com a minha mãe e aparentemente não estava ali "apenas" para ganhar o dela à custa do sofrimento dos outros. A parceria correu bem, até que a minha mãe começou a estranhar o facto de a assistente da Drª Dina pedir-nos mais vezes do que o normal para passarmos lá "mais tarde" ou na "semana seguinte", pois tinha-se acabado o livro dos recibos. Nesta altura, já eu era muito mais autónoma, já ia ao dentista sozinha e também eu tive que ouvir estas desculpas esfarrapadas de quem queria fugir ao fisco. Foi nesta altura, meados da década de 80 do século passado, que proliferaram os dentistas brasileiros.
Não me recordo de ter más experiências nos tempos de faculdade. Se calhar nunca precisei de visitar nenhum; ou não quis, sei lá...
Até ao dia em que o chumbo de um dos dentes colocado originalmente pelo "carniceiro" se partiu e eu "deixei andar". Notava diferença, pois os alimentos alojavam-se naquele recanto e sentia dor quando ingeria bebidas demasiado frias. Tanto deixei andar que um dia acabei por sentir que o dente se partia enquanto comia um -pensava eu - inofensivo bocado de pão (coincidência gira: na semana passada, o meu filho largou um dos incisivos laterais enquanto comia pão e o outro enquanto chuchava um osso), ficando eu com parte de um dente aguçado e pontiagudo na boca, enquanto outro bocado se tinha misturado com o miolo do pão. E toca a ir visitar um dos conhecidos desta bela cidade, logo no dia seguinte.
Ora, este conhecido concorre em pé de igualdade no pódio dos traumatismos dentários. Não é que ele fosse desastrado e insensível como o "carniceiro", mas, e apesar das três anestesias locais que injectou, teve ainda que recorrer à força bruta e a um pé bem posicionado na cadeira para arrancar o resto do dito cujo partido, não evitando a forte dor nem um mau estar que perdurou nos 3 dias seguintes, fazendo-me pensar que eu tinha a bochecha inchada e que se notava!
Já lá não vou desde o dia 13 de Setembro de 2007. Medo, muito medo!