Muitas vezes lembro-me dum episódio da minha juventude, que passo a relatar.
No meu décimo ano, tinha eu 15 anos, tive uma amiga que tinha uma irmã que tinha uma acelera bordeaux. Aquelas motinhas bem giras, que não davam mais do que 60/70 Km /hora. E mais não era preciso. Novinha em folha, prenda dada a si própria, com o seu dinheiro, quando os jovens ainda podiam começar a trabalhar cedo e concluir o 9ºano. Essa minha amiga teve a excelente ideia de num belo dia de inverno vir para a escola de acelera, a da irmã. E vai aqui a vossa amiga Pseudo teve a excelente ideia de se armar aos cucos e pedir para dar uma voltinha à escola, dentro da escola. Era naquela altura em que entravam veículos motorizados nos recintos escolares. A amiga da vossa amiga Pseudo lá acedeu, depois de alguma insistência de minha parte, mas sempre a recomendar-me para ter cuidado, que eu não tinha experiência em montar e conduzir, o que na época era verdade e hoje continua a ser, pois nunca mais assentei o rabo numa mota conduzida por mim. A verdade é que durante uns bons metros montei e conduzi muito bem a dita cuja acelera. Mas chegou a fase do arenito e ao fazer a esquina dum pavilhão, aqui a vossa amiga lá deu o previsível tralho, em cima da acelera novinha em folha da irmã da minha amiga. Resultado: algumas escoriações, arranhanços, riscos na acelera, peças partidas e seguiu-se o empolgante relato do episódio aos respectivos pais e irmã. A mota andava e transportou-nos, às duas, subida acima, até casa da minha amiga.
Resumindo e concluíndo: os meus pais assumiram a responsabilidade da minha irresponsabilidade e a irmã voltou a ter a sua acelera, passadas umas semanitas na oficina. A brincadeira ficou bem cara aos meus pais, eu nunca me esqueci do que aconteceu, eu e a minha amiga continuámos amigas durante mais uns anitos até que os percursos de vida nos separaram e a irmã fulminava-me com o olhar.
Este incidente ensinou-me, mais uma vez, que o que é obtido através do esforço próprio é muito mais valioso do que aquilo que nos é dado de bandeja. E ensinou-me também que, naquela altura, eu montava mesmo muito mal!