As noites
À noite apreciava imenso sentar-se em frente ao Atlântico, sem pensar em grandes preocupações, só a viajar mentalmente ou a deixar o seu corpo relaxar estendido na rede brasileira que milagrosamente tinha conseguido pendurar na sua ínfima varanda da sala. O mar fazia-lhe falta. O vento e o barulho das ondas, lá ao longe, embalavam-na e levavam-na e escrevinhar o turbilhão de imagens e ideias que a assolavam durante as longas noites. Se por vezes apenas rabiscava umas imagens aparentemente sem sentido para um qualquer estranho, outras vezes, deliberadamente, desenhava formas humanas, caras expressivas, pares de pessoas, quase sempre a sorrir, em harmonia. Havia noites de verão em que gostava de fazer um exercício de palavras tão infantil que quase sentia vergonha de si própria por ainda revelar tais hábitos de criança: o encadeamento e associação de palavras que só para ela faziam sentido. Ultimamente, estas associações resultavam numa corrente algo mórbida e deprimente. Tinha perfeita ...