Ah pois é! Aposto que ninguém alguma vez pensou sequer nesta hipótese. Mas
vamos lá pensar em conjunto e ver se não há fifty-fifty
de hipóteses de, afinal, a pessoa ser do género “fêmea”.
Mais daqui a pouco, contudo...
Agora vou retomar o que fiz anteriormente com a Sahaisis, o GM, a Julie, o Tio do Algarve, o Patife e a Pusinko. E se me esqueci de alguém, na lista de perfis
traçados, adianto as desculpas e aceito que me corrijam.
Passo então a dissecar “o Xilre”...
A pessoa caiu aqui no tasco qual passarinho novo e inocentinho, de asinhas
leves e azuis, a chilrear timidamente sobre as alarvidades que eu ia
escrevendo. Por algum motivo, foi ficando, até que, tal como aconteceu em
muitos outros blogs, tornou-se “da casa”. De repente...puff! Desapareceu e,
qual fénix renascida das cinzas, surgiu a chilrear nos diversos jardins, com
uma elegância nunca vista, mas a fazer lembrar alguém do antigamente; alguém
com conhecimentos infinitos sobre as mais variadas artes que terá pesquisado em
algum momento da linha temporal da sua vida; alguém que terá engolido um
dicionário tal é a quantidade e diversidade lexicais; alguém com fina ironia a
discorrer postumamente sobre autores e artistas desconhecidos para muitos de
nós; alguém cujos gostos se coadunam mais depressa com uma natureza efeminada
do que masculina. Digo eu...
“O Xilre” é uma enciclopédia ambulante inesgotável, com uma sensibilidade
extraordinária e incomum e enorme modéstia. Conhecem mais algum ser masculino que pulule pelos nossos
cantinhos virtuais onde deixa sempre uma frase simpática (mais em uns do que em outros, é um facto),
reveladora dos seus vastos conhecimentos? E nunca se questionaram sobre como é
que a pessoa sabe estas coisas todas? Onde é que arranja o tempo para se
cultivar e ainda por cima partilhar?
Pois eu cá acho que só uma mulher, com a sua capacidade inata de realizar
diversas tarefas em simultâneo, seria capaz de, em tão pouco tempo – cerca de
um ano, ano e meio? – nos presentear com o rol de oferendas ao qual acrescenta
sempre uma palavra mais pessoal, uma frase mais sua, um ponto.
Atentem neste texto:
"As pedras iluminam as estradas da fuga
Ao fundo ouço as vozes ásperas rolando como seixos
em areia grossa, mas não adivinho ainda quão premonitórias são. Sem pausa nem
misericórdia mãos agarram-me, amordaçam-me, arrastam-me, deixo um rasto de pele
e sangue pelo chão. Cospem ritmicamente sobre os meus despojos como num imundo
ritual de exorcismo. Nos uivos da multidão reconheço julgamentos sumários,
culpas imaginárias, ofícios sem santidade. O meu corpo transporta a dor
imaculada pelas ruas, o sofrimento tão puro como a carne que se revela quando a
pele se despe. Ouço, já perto, o homem da pá com a lâmina a guilhotinar a
terra, o jorro dos estilhaços que me ferem a carne. Tiram-me a mordaça e
liberto toda a violência do grito contido. Não reconheço a cascata que brota da
minha garganta, moldada em horror cintilante. Deixam-me cair no poço negro, os
ossos cedem, apenas a cabeça encontra ar. As vozes tornam-se feras e
sincopadas. A um urro de comando, os seixos voam na minha direcção. De olhos
fechados, assisto de dentro ao desintegrar da minha face, à pulverização dos
ossos do crânio. Recordo os meus mortos que ainda sofrem a vida em mim. A
escuridão assenta, as vozes afastam-se, distantes já, e nas pedras que embatem
encontro o meu caminho de evasão."
Não vos parece que terá sido redigido por uma alma feminina desesperada,
deprimida e depressiva? Não será este um exemplo de texto escrito por mão
feminina e delicada? Não sei, não...
Assumindo que a minha suposição até é verdadeira, imagino “O Xilre” como
uma senhora na casa dos 50 e muitos, quiçá 60 anos. De feições doces e sempre
sorridente por fora, nem sempre condizente com o seu estado de espírito. De
trato fácil e de palavra terna para com
os demais. Cuidada e cuidadosa e sempre atenta a tudo e mais alguma coisa, pois
tudo e mais alguma coisa são a sua fonte de inspiração. Uma “Avózinha”,
portanto...
Ajuizem vossas excelências.