Era eu catraia e quando se aproximavam as férias escolares, ficava logo ansiosa porque ia perder o contacto com as minhas grandes amigas. Vai daí, não havia férias em que não houvesse troca diária de correspondência. Chagava a receber e a enviar 4 e 5 cartas por dia, algo semelhantes, a diferentes destinatárias, mas sempre enfeitadinhas com umas flores coloridas ou escritas em papel "à menina" personalizado. A caligrafia era cuidada e arredondada e eu tinha brio no que fazia: não podia haver rasuras nos meus segredos!
Eu até sabia a que horas é que o correio passava e esperava-o atrás da porta de casa, ansiando por aqueles envelopes mágicos que escorregavam por debaixo da porta da humilde casinha dos meus pais. Quando o carteiro não trazia nada, era um dia menos alegre. Ainda hoje tenho guardadas a maior parte das cartas recebidas, deles e delas - mais delas, já que se recebesse carta de rapaz, havia interrogatório.
Entretanto cresci, para cima e para os lados (mas não muito!) e a comunicação foi-se mantendo,ainda por carta e também por telefone - que não existia na minha casa, apenas na da minha avó, a Dª Maria Elisa. Telefone esse muito importante na minha vida, já que foi aquele objecto preto e pesadão que permitiu à minha cara-metade dar o primeiro passo duma longa história que dura há...deixa ver...hmmm 16 anos!!! É muito ano!
Hoje, não posso viver sem um computador ligado à net. E admito mesmo que uma das três primeiras coisas que faço quando chego a casa é verificar o meu correio electrónico e ver se alguém se lembrou de me mandar alguma mensagem importante, de vida ou morte - o que nunca aconteceu até à data, felizmente (as outras duas é pousar a carteira no chão do hall de entrada e de seguida dar uma mija). Estou (estamos?) tão dependentes destas caixinhas inestéticas, que não condizem nadinha com a mobília do escritório, que nos ligam ao mundo, indispensáveis e lúdicas, que até me esqueço do quão importante foram o carteiro e o papel na minha vida de adolescente! Não me lembro da última vez que manuscrevi uma carta ou um postal. É uma tristeza!
Digam-me lá agora como é que os "nossos filhotes" manterão contacto com quem está longe, daqui a uns 20, 25 anos?