segunda-feira, 1 de janeiro de 2007

As taras do meu filho

O título deste post é enganador, porque apesar de ele já ter algumas consideráveis, hoje partilho convosco apenas uma: o prazer que lhe dá ajudar-me a aspirar a casa. Fá-lo com todo o gosto, curva-se com aquele cano enorme para chegar aos cantos mais recônditos da casa, usa aquela peça mais fininha que serve para limpar cantos e esquinas como se de um mestre se tratasse. Não tenho qualquer dúvida que, pela vontade demonstrada em nos ajudar nas mais variadas tarefas caseiras, há-de dar um excelente companheiro de quem ele quiser. Vê-lo hoje a limpar o salão cá do lar fez-me lembrar este post escrito em Março do ano transacto, que relata uma das mais traumáticas experiências da minha vida, e que me deu imenso gozo a descrever, muito mais do que a vivê-la. Pergunta do meu marido: "achas que ele vai ser o mike ou o melga"?
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"There are worse things in life than death. Have you ever spent an evening with an insurance salesman?" - Woody Allen
O que isto me fez lembrar! Tão simplesmente a pior noite da minha vida passada nesta casa! Não, não foi essa noite...Já conto. Um dia recebo um telefonema. Fui seleccionada para isto e para aquilo e blah blah blah. Acedo ao pedido feito já que me garantiram que a visita começaria por volta das 9 da noite. Assim foi. Já tinha preparado o resto da famelga para o que aí vinha...pensei eu (santa ingenuidade). Tocam à campaínha e abro a porta a uma senhora bem parecida, muito compostinha, rodeada por parafernália que, juro, nunca tinha visto na vida. Fiquei logo impressionada - mal impressionada, e pensei com os meus botões "mas que belo serão de sexta feira". E disse-lhe: "Já vi o que vem cá fazer, mas está com azar porque nós não vamos comprar nada.". Ela não se deixou dissuadir por esta minha ameaça e foi entrando. Quando a fulaninha abre a boca, emite sons com uma voz rouca, cavernosa, pior que o farol da Barra. Se há pessoa cuja voz não devem ter ouvido quando lhe fizeram os testes para a empregar, deve ter sido esta mulher! Voz essa devidamente acompanhada por um bafo a cigarro fenomenal. O cheiro não me costuma incomodar, até porque também eu padeço desse mal - mas só ao fim de semana, dizem que faz menos mal - mas esta mulher tresandava a nicotina! Aquilo até ao susto metia medo. Adiante... Já referi que na altura o diabinho cá de casa estava prestes a fazer dois anos? Não? Ok, o diabinho cá de casa estava prestes a fazer dois anos. Este pormenor é importantíssimo, já que o diabinho foi um dos motivos principais da animação dessa noite maldita. Como sabem, as crianças nascem curiosas e ainda mais curiosas se tornam à medida que crescem; gostam de tocar, saborear, apalpar, cheirar...enfim, de fazer uma séria de coisas através das quais exploram o seu mundo; então quando chegam à adolescência, é vê-los todos a espreitar pelo buraco da fechadura da porta da casa de banho quando a prima está, pensa ela sossegadamente, a aliviar-se, ou melhor, a urinar...onde é que já iam??? Sim, isto aconteceu comigo, mas é história para quando não tiver mais nada que dizer. Continuando... a minha criança não é excepção à regra. E nessa noite fez jus a esta característica infantil. Estava a dita senhora, muito simpaticamente a conversar connosco, sempre a mostrar o seu sorriso amarelo, a explicar-nos porque tínhamos sido os felizes contemplados com esta demonstração de eficácia por parte daquele aspirador mágico. É que ele fazia muito mais que aspirar, como ela veio a provar: dentro de si, do aspirador, havia uma série de objectos mais pequeninos que serviam, imaginem só, para passar a ferro, fazer massagens, limpar o pó nos cantos mais recônditos desta casa, purificar o ar da casa, e não sei mais o quê...Ora, o diabinho estava nas sete quintas dele, com tantos brinquedos novos para abanar, experimentar e estragar. Eu é que já não estava a gostar nada da conversa e de que me cortassem a palavra cada vez que queria dizer alguma coisa. Ainda mais que a casa era minha e eu estava a fazer um grande favor à senhora, permitindo-lhe que demonstrasse nas MINHAS carpetes e nos MEUS sofás o quão eficaz era aquela máquina infernal. Fui igualmente recordada que andamos a dormir sobre uma quantidade infindável de ácaros que iria invadir os nossos pulmões e as tripas e acabaríamos por morrer dentro do nosso próprio lar. Bem, desde esse dia que aquela carpete da sala não é a mesma, com tantos borbotos. Eu é que ainda não me lembrei de pedir uma indemnização por danos nos têxteis cá de casa! As horas foram passando e a criança cada vez mais barulhenta, guinchadora e irrequieta. Já passava bué da hora de dormir do diabinho e a mulherzinha, que não era cega, ainda debitava fonemas a 200 à hora. Mas que gaija tão irritante! Eu já estava quase a passar-me!! O que aconteceu - quando chegou a fase da venda. Cega ela não era, mas surda devia ser, porque apesar das milhares de vezes que lhe dissémos que não nos ia vender nada e de lhe explicarmos porquê, a puta da gaija insistia, e insistia, e insistia... pela saúde do nosso filho, por uma casa mais limpa e arejada, porque não havia nada no mercado igual ou a tão bom preço, porque era uma oportunidade única...ARRRRRRRRRGHHHHHHHHHHHHH! Saltou-me a tampa! Eu estava uma pilha de nervos! A determinada altura, era o diabinho a chorar podre de sono e eu a berrar com a mulher, a convidá-la "educadamente" a arrumar a tralha dela e a abandonar a nossa casa. O que fez, durante cerca de 10 minutos e sem nunca se calar. Alguém que calásse a máquina de matraquear! E eu ainda tive a bondade de lhe escancarar a porta e de lhe desejar boa-noite. Mas que inferno! Nesse dia descobri em mim uma faceta bastante útil: sei perfeitamente como me livrar de vendedores chatos, insistentes e que não sabem quando parar, e daquelas pessoas que nos telefonam a oferecer um conjunto muito bonito de talheres. Até o pessoal da Portugal Telecom já descobriu os meus dotes vocais, quando me inquiriram acerca de um pacote qualquer dos serviços deles. Respondi-lhes ipsis verbis: "Eu quero é livrar-me da PT para sempre, ora essa!"...É que foi mesmo assim que eu falei. De facto, basta termos as circunstâncias certas à nossa frente e somos umas verdadeiras Mrs. Hyde! Isto tudo só para dizer que partilho com o senhor Woody Allen o seu gosto por vendedores de seguros e "parceiros de negócios".

Pronto, tá bem! Mas eu já nem reconheço as entranhas disto!

Save water, drink wine! Ando muito ecologista! E estou viva! Ao contrário da outra que deu de frosques sem ai, nem ui! E tinha muita coisa p...