Porque, na véspera da partida de Huizen, olhámos para o mapa, medimos a olho a distância que queríamos percorrer em mais um dia grande de viagem, confirmámos no google.maps as alternativas de trajecto e dissemos "É aqui que vamos dormir amanhã". E lá procurámos no booking.com e no site da cadeia Accor (Ibis, Novotel, Mercure) hotéis ali à volta, dentro do que queríamos gastar.
De Lyon guardo boas e más recordações.
Primeiro as más, depois as boas. Ou se calhar tudo misturado, ao correr dos dedos no teclado.
Foi neste hotel Ibis nos arredores de Lyon que tentei comer o tal bife tártaro nojento que me deu vómitos. Foi lá que ficámos pior alojados, num quarto supostamente para três (efectivamente tinha 2 camas) onde tínhamos que pedir "com licença" uns aos outros para nos movimentarmos. Foi lá que fomos recebidos na recepção por alguém que mal sabia arranhar Inglês - e isto é uma das coisas que critíco nos franceses - e que foi seco e antipático nas respostas que deu às questões sobre como chegar à cidade (como se estivesse a fazer um favor, e não o trabalho dele). Foi lá que constatámos uma grande falta de brio profissional do staff em relação a um grupo de japoneses: porque todos os esclarecimentos foram dados em voz alta, em inglês, repetidas vezes cada vez que um japonês se aproximava do nosso pequeno-almoço, ficámos a saber que estes tinham pago quatro euros/cabeça e queriam usufruir de mais, mas não os deixavam. A cara de frete das duas funcionárias que estavam de serviço, na presença dos outros hóspedes, mal os japoneses viravam costas, era imperdível! Foi neste hotel que presenciámos obras de pintura num corredor do piso térreo, quando noutro corredor desse mesmo piso havia quartos ocupados. Enfim, em Portugal já paguei menos em hotéis Ibis por mais e melhores condições. Após chegarmos à terrinha, recebi o habitual inquérito de satisfação, onde registei as minhas impressões sobre o local, bastante negativas. Hoje, recebi um e-mail do IBIS, um daqueles noreply, apresentando desculpas pelo facto da estadia não ter correspondido ao esperado e garantindo que as condições seriam melhoradas, numa próxima oportunidade. Tá bem, abelha. A mim, não me apanham lá mais!
E agora as coisas boas, que essas é que interessam reter.
O tal funcionário do hotel recordou-nos que o dia seguinte seria feriado em Lyon e disse-o com um tom revelador de que possivelmente esse dia não seria o melhor para andar pela cidade. Ora, nós achámos exactamente o contrário, já que não tivemos que enfrentar magotes de turistas, não encontrámos filas para entrar aqui e acolá, andámos ao nosso ritmo sem ter que pedir licença para passar nem suportar o suor dos outros, no autocarro e no metro.
À semelhança do que tínhamos feito em Amsterdão, estacionámos o carro num Park & Ride, onde, por 15 euros para os três (mais caro), tivemos direito a 3 bilhetes de metro para o dia inteiro e parque pago. Esta ideia dos P&Ps nas grandes cidades é excelente; evita maior fluxo de trânsito e poluição no centro da cidade, as habituais chatices de ter que encontrar lugar para estacionar numa cidade desconhecida e eventuais multas!
E mais uma vez ...metro. Por razões fáceis de explicar, não tinha nada a ver com o de Paris: muito mais moderno, estações limpas, artisticamente decoradas e metro...sem condutor. O petiz fez questão de confirmar isto: não havia ninguém em nenhuma das pontas da carruagem.
Saímos numa praceta das inúmeras da baixa da cidade, esta que aqui partilho, quase sem ninguém, com um posto de turismo logo ali à mão e de onde partimos para o nosso passeio, num dia quente e soalheiro, como já não sentíamos e víamos há mais de uma semana:
Mais uma manhã a calcorrear as ruelas, a atravessar pontes (menos do que em Amsterdão), fotografando aqui e acolá, admirando os pequenos cafés e esplanadas, ainda vazias e eu a cogitar que aquela zona me fazia lembrar qualquer coisa sem que me recordasse de quê. Até que de repente fez-se luz:era a Baixa Pombalina - uma zona extensa e sempre plana, com ruas geometricamente delineadas, edifícios com uma arquitectura bastante semelhantes entre si, praças e pracetas com estátuas e prédios deslumbrantes como o Hotel de Ville, onde ouvimos um concerto de carrilhões com espectadores muito bem comportados:
Andámos sempre a esticar a corda, no que toca a andar a pé: "é só mais um bocadito, vamos só ali e depois paramos para almoçar". Pois, e o tempo a passar e dois dos três a ficarem rezingões. Não é preciso dizer quem. Em frente a esta Câmara Municipal, apanhámos o autocarro para a parte alta da cidade, donde se tem uma vista magnifíca duma cidade cuja dimensão é, assim por alto, só o triplo ou o quádruplo de Braga vista do Bom Jesus:
Descemos a pé, passando por zonas mais obscuras, menos limpas do que a Baixa, com paredes graffitadas, casas a necessitarem duns restauros, janelas com cortinas rendilhadas, tudo muito semelhante ao que me lembro de Lisboa e viémos dar novamente à zona onde almoçámos, na esplanada, onde avistei esta porta que me fez questionar o que haveria por trás.
Dela vi sair duas pessoas, uma muçulmana lindíssima e um homem que olhou para mim com olhar desconfiado, pois eu estava a fotografar-lhe a porta de entrada. Grande filme fizémos à mesa à conta disto. Segundo a mocinha simpática que nos serviu à mesa, naquela área habitam estudantes, artistas, árabes - vimos muitos em Lyon, com o seu lençol, como dizíamos na brincadeira. À tarde, apanhámos o funicular que nos levou à Basílica de Fourviére, monumento imponente que, com as suas duas igrejas, não fica nada atrás de Notre-Dâme.
Mais um local cimeiro com uma vista privilegiada sobre a cidade e sobre a
central nuclear que se avistava bem ao longe, com as suas duas chaminés
a fumegarem sob um céu azul lindíssimo.
Ali ao lado fica o Anfiteatro das Três Gália, o tal local onde não foi preciso falar demasiado alto lá em baixo para que se ouvisse muito bem lá em cima.
Assistir a uma peça de teatro neste sítio, numa noite quente e estrelada de verão, deve ser algo inesquecível.
Descemos novamente no funicular e fomos lamber o merecido gelado do dia, numa esplanada cheia de turistas, onde despachei cerca de dez euros em moedas pretas e das outras pequenas, que pensei que fossem úteis nas máquinas de bilhetes. O MQT tinha posto de parte vários sacos, daqueles do banco, com moedas para pagarmos as portagens espanholas e francesas. Este foi só um dos saquitos despachados e que aliviou o peso da minha mala.
O passeio na cidade terminou por esta altura. Já o dia foi terminado na piscina do hotel. Nessa noite, quem comeu o bife tártaro foi o petiz, que não foi nada esquisito como a mãe tinha sido no dia anterior.
O dia surpreendeu-me, foi bastante agradável e compensou o meu sentimento de desilusão aquando da chegada ao hotel na noite anterior.