Acabei de ler algures alguém a chamar-me fundamentalista. Pois, se calhar até sou... (GM, a partir daqui já não te interessa :P)
Eu sou daquele tipo de pessoas que resiste muito à maior parte das mudanças que afectarão a vida pessoal e profissional. Leio, oiço, aprofundo, comento, torço o nariz, digo mal, reconheço vantagens...mas quando chega a hora H, lá está a maldita resistência a pesar mais do que a mudança. Umas vezes ganha, outras vezes perde. Neste caso, eu sei que a minha resistência vai perder, pois serei obrigada a ensinar em conformidade com o acordado há muito tempo. No meu contexto profissional impõe-se, a partir de Setembro de 2011, o ensino da mudança da grafia da Língua Portuguesa, de modo a uniformizar o que ficou acordado há 21 anos!!! Pois, o Acordo Ortográfico foi assinado há mais de duas décadas e só na segunda década do século XXI é que efectivamente se implanta. E eu continuo a perguntar: para quê? Há de facto mudanças que não me desagradam, mas há outras que são uma aberração.
Alguns reparos, feitos por terceiros, mas só hoje é que me apeteceu escrevê-los no "papel":
- 21 anos para mudar formalmente a grafia de uma língua parece-me demasiado tempo;
- As mudanças linguísticas não devem, quanto a mim, acontecer por decreto, mas sim porque a língua é usada por milhões de pessoas;
- Se até agora portugueses, brasileiros e falantes dos PALOPs sempre se entenderam, porquê a necessidade de uniformizar apenas a grafia? Continuamos a pronunciar de maneiras diferentes mas passamos a escrever alguns vocábulos da mesma maneira. Incoerente...
- Mudam algumas palavras para os brasileiros, mudam muitas palavras para os portugueses, algumas escrevem-se de duas maneiras para ambos. Confusão!
- Todas as mudanças são uma questão de hábito, mas esta mudança vai chocar com aprendizagens feitas ao longo da vida, de muitas vidas. Muitas vidas que terão que re-aprender a escrever se quiserem manter-se correctos - eu incluída!
- ...
Exemplos estranhos:
- Continuamos a escrever "egípcios", apesar de desaparecer o "p" de "Egito"
- Eliminar o hífen do verbo "haver", quando conjugado no presente do indicativo (Eu hei de, tu hás de, ele há de) - pergunto: porque é que não se escreve então "Eu heide, tu hásde, ele háde"?
- A palavra "co-ocorrência" passa a escrever-se sem hífen: coocorrência. Visualmente esquisito, não?...
- O uso de maiúscula e minúscula é facultativo no que concerne a disciplinas escolares (língua portuguesa, Língua Portuguesa). Porra, decidam-se!
- O que diria o falecido Eça se visse o seu título "O crime do padre Amaro" escrito com iniciais minúsculas e maiúsculas?
- O verbo "parar" já não terá acento agudo na frase "Para para pensar, puto!".
E assim, muito superficialmente, me insurjo contra a implementação do AO, apesar de ter que a fazer com os meus catraios. E eu que nem sequer sou professora da língua afectada! Mas que vai ser confuso, vai!
Olha, não parei de ler e concordo contigo. Com uma única excepção: não dou aulas. Não sou professor. E hei-de continuar a escrever da forma que estás a ver. :-P
ResponderEliminarComo concordo em tudo com este post! Tive uma formação sobre o dito acordo e ia morrendo! Então usamos minissaia e coisas do género e toca a tirar hífens numas palavras e a acrescentar noutras, sem falar nos acentos que nos faziam distinguir tempos verbais e afins...
ResponderEliminarNão me identifico, no me gusta e vou ter de ensinar esta bodega!
Ensino, mas desgostosa com tamanha barbaridade!
Somos 2, Corisca.
ResponderEliminarTás vivo, GM? :P..sabes, aqui eu vou escrever como sempre escrevi, mas lá na escola vou ter que mudar - é a minha resistência ao rubro!
Eu sou bota-de-elástico, não sei se com ou sem hífen, em muitas coisas. Mas nesta há coisas com as quais concordo: eu digo Egito e egípcio, portanto parece-me lógico escrevê-lo. Quanto à frase do exemplo final, admito que possa ser confusa mas rapidamente se saberá o sentido. Basta saber ler, que esse é, sabe-lo bem melhor do que eu, o grande mal de muitos de nós. Já agora, o falecido Eça morreu Queiroz, mas há muitos anos que é conhecido por Queirós. Há algum mal nisso? E o que pensaria esse ilustre escritor quando deixou de ir à pharmácia e passou a ir à farmácia?
ResponderEliminarPois eu pergunto se há algum mal em deixar as coisas como estavam: eles escrevem à maneira deles, nós à nossa, e continuamos e entendermo-nos...ou não?
ResponderEliminarEu concordo. Este acordo não serve para nada.
ResponderEliminarO mal é pensar na pseudoguerra eles contra nós. A escrita evolui, se eu digo teto por que raio tenho que escrever mais um cê? É só um cê, mas por essa ordem de ideias até lá poderia acrescentar um agá. Ou outra coisa qualquer :)
ResponderEliminarEu não encaro isto como guerra, pseudo ou não pseudo. Se querem mudar a língua portuguesa escrita em Portugal, qual a necessidade de nós termos que adoptar hábitos linguísticos brasileiros? Há regras rígidas para certas palavras e para outras formas duplas? A palavra "espectador" deixa cair o "c" e passa a ser, TAMBÉM, sinónimo daquele/a que espeta, sem que esteja a assistir a um espectáculo!
ResponderEliminarIntroduzam estrangeirismos à vontade, desde que não haja um equivalente na nossa língua, mas alterar-lhe a grafia é contra-natura.
Bah!
Olha o teto outra vez! Leio sempre têto com o famigerado "c"...
ResponderEliminar...Isto vai ser uma aventura do catano!
Muito de acordo com o que é dito aqui.
ResponderEliminarOra que é incongruente, não uniformizado e, basicamente, uma rebaldaria.
Ainda não fui investigar, mas pergunto se são facultativas ou se mudaram por lei as seguintes:
hormona/hormônio
neurónio/neurônio
camião/caminhão
polaco/polonês
entre outras que me escapam das falangetas neste momento.
Em que ficamos?