“Mas que raio?” – pensou ela. O que é que elas queriam agora, a meio da noite? Tantas portas a bater, tantos ferrolhos a correr para trás e para a frente, tantos sons metálicos quase ininterruptos…seria mais uma revista às celas? Esta semana já tinham passado por duas destas, sempre a horas indecentes da madrugada. Mesmo quem está por detrás de grades ainda tem direito a descanso, não? Já se tinha habituado ao ram-ram diário da casa , mas nunca o conseguiria em relação a estas visitas inesperadas a meio da noite. Quando aconteciam, remetiam-na quase sempre para a noite fatídica em que acidentalmente assassinou o companheiro da sua vida e o seu único homem até à data. Na cama, sozinha, ao contrário do que era hábito entre o casal, e já com um olho lá e outro cá, começou a ouvir passos tímidos na neve que abundava lá fora. A casa estava relativamente isolada do resto da vila, mas sabia que se houvesse algum contratempo, podia sempre contactar o merceeiro, o Sr. Joaquim, que pouco dormia...