O meu avô materno chamava-se Valdemar. O meu avô Valdemar era alfaiate, brasileiro de nascença e perneta por infortúnio da vida. Sempre o conheci assim, e confesso que não consigo imaginar como é que a minha avó Elisa conseguiu, aos 15 anos de idade, sentir seja o que for por alguém fisicamente diferente (à falta de melhor termo que não tenha sentido negativo) e com quase o dobro da idade dela. O meu avô brasileiro e perneta, após umas aventuras na sua terra natal, estabeleceu-se em Portugal com um negócio que, à data, se apresentava promissor e como garantia de ganha-pão da família. A alfaiataria que refiro num texto anterior era dele e era para lá que eu ia ao final do dia, após os meus dias de escola. Era lá que encontrava toda a minha família (mãe, avó e avô, tios), à excepção do meu pai, que esse decidiu ir por outros rumos. O meu avô Valdemar era mau como as cobras e durante muitos anos usou e abusou da sua muleta no lombo da minha avó. Até ao dia inesquecível para ambos em que...